A Casa Parasita: conheça a arquitetura e a iluminação do cenário do melhor filme de 2020
A casa do filme Parasita é o principal cenário das cenas do filme. A fachada de vidro, e o ar contemporâneo da decoração, com traços finos e retos, além da iluminação bem pensada para cada cenário, evidenciam a sofisticação daqueles que ali moram. Saiba mais!
Sobre o filme Parasita
Parasita é uma obra que marcou a história do Oscar. Premiado nas categorias de Melhor Filme, Melhor Diretor, Melhor Roteiro Original e Melhor Filme Estrangeiro, o filme de Bong Jonn-ho foi o primeiro vencedor de Melhor Filme em que a língua falada não é a inglesa. Além de representar um enorme reconhecimento ao cinema sul-coreano, a produção ainda aborda um tema bastante polêmico e atual: desigualdade social.
Parasita é uma obra que mistura humor, ternura, terror psicológico e um bocado de destruição. Os caminhos de duas famílias se cruzam e as interações entre elas revelam as diferenças sociais e os problemas de classe envolvidos. A família pobre – os Kim – manipula a família rica – os Park – para arrumar um emprego, se infiltrando na luxuosa mansão, como um parasita. O filme, no entanto, acaba nos levando a entender, através de cenas que revelam uma crítica social muito apurada, que a família rica também acaba sendo parasita, pois para ser possível usufruir de todo conforto que o dinheiro lhes proporciona, acabam explorando a vida de outras pessoas.
Sobre a casa de Parasita
A casa faz parte do cenário do filme e é uma produção de Lee Ha Jun. Na trama, o arquiteto ficcional Namgoong Hyeonja a teria desenhado e construído, morando lá até seus últimos dias de vida. Seu grande desafio foi aliar os interesses da produção do filme – como locais em que os personagens poderiam se esconder – com a ideia de uma casa real, para se viver.
Características arquitetônicas da Casa Parasita
A casa possui pé-direito baixo e cômodos amplos e abertos, de forma com que os ambientes se espalham horizontalmente. Em volta, há um jardim verde que pode ser observado através das paredes de vidro da sala e cozinha, como se fosse uma espécie de moldura da paisagem. Tudo é muito minimalista: poucos móveis e eletrodomésticos. As cores revelam uma estética sóbria e modernista, com tons terrosos discretos. A decoração criada pelo cenógrafo é bastante contemporânea. Todos os traços são muito simétricos e lúcidos: o sofá é fino e reto, os móveis são cinza, os ambientes são repletos de madeira escura. Há também um grande quadro na sala, que representa uma floresta, criado pelo artista Seung-Mo Park, que faz parte de uma série chamada Maya.
O significado por trás das escolhas do cenário
O diretor Bon Joo-Ho, em entrevista para revistas internacionais, afirmou que a casa precisava de sol, porque, segundo ele, “a classe social em que a pessoa está inserida determina a quantidade de luz natural que ela receberá durante o dia. Quanto mais pobre, menos janelas ou janelas menores. Quanto mais ricos, mais janelas ou janelas maiores”. Por esse motivo, a escolha do lote perfeito para a construção foi tão importante, pela sua configuração em relação ao deslocamento da luz solar.
Além da luz natural, a iluminação artificial de ambas as casas também ajuda a intenção do diretor. Na casa da família rica, encontramos muitos pontos de luz, com o uso de perfis e fitas para uma iluminação linear, seguindo os traços retos do restante da decoração e arquitetura. Já na casa da família pobre, pouquíssimos pontos de luz ajudam a dar uma ideia de local mal iluminado, pequeno e desconfortável.
A organização excessiva dos elementos e a sofisticação dos ambientes também representam muito no filme, principalmente quando a trama compara a casa da família rica com a casa da família pobre, que é atulhada de coisas, evidenciando o pouco espaço e estrutura. Isso faz com que nós, telespectadores, consigamos sentir até fatores invisíveis: como o cheiro da sala, o conforto do sofá, ou a limpeza dos talheres da cozinha.Tudo é pensado para trazer a sensação de riqueza e privilégio, escancarando as diferenças entre os mundos, representados pelas famílias, e o asco que uma sente pela outra. Isso fica ainda mais claro quando conhecemos os porões da casa frequentados pelos funcionários, aos quais o acesso é através da porta escondida na despensa: cômodos sujos, secretos, pequenos.
A escadaria
As escadas são outro fator a ser levado em consideração, já que até mesmo sua posição tem uma razão. O cenógrafo precisou contemplar as necessidades do roteiro, isto é, tudo precisou ser integrado – para dar o ar de amplitude -, mas com locais em que uma pessoa pudesse vigiar a outra sem ser vista. Esse é o motivo das escadas não serem visíveis para a cozinha, por exemplo. A escadaria, diversos momentos do filme, acaba representando o elo de ligação entre os dois mundos, metaforicamente imitando a ascensão social, e a ideia de “subir na vida”.